Stracciatella

Stracciatella

Chego aos campos e vastos palácios da memória onde estão os tesouros de inumeráveis imagens trazidas por perceções de toda espécie. Aí está também escondido tudo o que pensamos, quer aumentando quer diminuindo ou até variando de qualquer modo os objetos que os sentidos atingiram. Enfim, jaz aí tudo o que se lhes entregou e depôs, se é que o esquecimento ainda o não absorveu e sepultou…Quem poderá explicar o modo como elas se formaram, apesar de se conhecer por que sentidos foram recolhidas e escondidas no interior?… Santo Agostinho, O palácio da memória, Confissões, Livro X 

Stracciatella surge de uma deambulação pelo quotidiano em busca de memórias.  Daqui surgiram as nossas estórias simples, sem princípio nem fim, sem sentido nem pretensão. Estórias – Fragmento – Estórias – Perfume – Estórias – Sabor – Estórias – Som – Estórias – Imagem – Estórias que não se escrevem, não se contam, passam sem ninguém dar por elas ou são encontradas por um acaso com sentidos atentos.

As estórias simples não se compõem apenas de palavras. São tão breves quanto fugazes. Ausentes de tempo. Não se deixam apanhar pelos vocábulos. Nómadas, viajam por lugares que a linguagem dificilmente consegue percorrer. Não necessitam qualquer continuação. Existem em si. Resistem ao esquecimento e ao desaparecimento. Acontecem.

As estórias simples podem acontecer a qualquer pessoa. Surgem pelo acaso. Não existem exemplos de estórias simples. Cada uma é única. Só após o acontecimento de uma estória simples pode alguém distinguir esta de outra qualquer espécie de histórias. A maioria das estórias simples acontece sem que ninguém dê por elas. As estórias simples se não forem identificadas por alguém como tal não sofrem nenhum tipo de dano ou abalo na sua existência. As estórias simples têm finais felizes e tristes ou não acabam, permanecem simplesmente.

Stracciatella constitui-se como uma amálgama de estórias simples que visa presentear as memórias de alguém à memória de todos.

Partindo da memória fragmentária das nossas perceções e de todo um espólio de imagens, palavras, objetos e sons, construímos Stracciatella. Olhamos para as estórias e imagens como reservatórios naturais da memória em constante mutação, partindo das memórias alheias reinventamos todo um universo de ação constituído por scrips de performances, projeções e instalações visuais e sonoras. Todo um trabalho de corte, recorte e costura levou a que os acontecimentos reais se tornassem ficções – estórias embrenham-se em imagens, imagens rasgam-se em estórias, objetos substituem palavras, palavras transformam-se em paisagens.

Como se presentificam as memórias? Será possível aos corpos, palavras, imagens, objetos e sonoridades? Stracciatella procura a corporalidade das memórias – corpo de experiências revisitadas – da qual o próprio visitante é parte inerente, Habitantes e Visitantes são o elo de ligação entre o que é memória e o presente.

Num espaço híbrido [lugar de visita, confessionário, veículo, sala de espera, vitrina, mostruário, ecrã, reservatório] Habitantes conduzem Visitantes por percursos labirínticos nos quais o tempo e os afetos se enlaçam.

 

Conceção Sílvia Pinto Ferreira | Criação e Interpretação Jeannine Trévidic e Sílvia Pinto Ferreira | Movimento Filipa Francisco | Fotografia e vídeo Nuno Veiga e Jeannine Trévidic | Montagem vídeo e áudio Nuno Veiga | Técnico de som Defski | Luminotécnica Fernando Sena | Confecção de Guarda-Roupa Rosa Fazendeiro | Produção Rui Sena, Isnaba Miranda | Fotografia de cartaz Jeannine Trévidic | Cartaz DPX | Agradecimentos: Utentes da Associação Mutualista Covilhanense, Luís Santiago; Sr. Francisco, Fabrice, Horácio, D. Filomena Brancal, Casa Diniz, Todos aqueles que contribuíram para o nosso Reservatório de Memórias

 

40 min . M/12 . performance/instalação

Estreia 29.jun.2005 > Teatro-Cine da Covilhã

23.jul.2005 / Cale Festival (Fundão)

9 e 10.set.2005 / Super Stereo Demonstration (Linhares da Beira)

27 e 28.set.2005 / Festival Escrita na Paisagem (Évora)

Anterior
Topo Arrasta Ver