Festival Y#6
Ao iniciarmos a sexta edição do Festival Y – festival de artes performativas, concretizamos o sonho iniciado em 2002: o de a região da Beira Interior ter um Festival que pudesse mostrar as novas direções onde se movem as artes do espetáculo na sua tendência mais contaminadora de todas as disciplinas artísticas, mas também o de poder ser um referencial de todos os criadores ligados à arte contemporânea que escolheram a região para viver.
É nestes dois sentidos que achamos que a Região se pode e deve mostrar. Foi com variadíssimas estruturas, autarquias e órgãos de comunicação social que construímos estes seis anos, mas foi também sem dúvida um esforço da nossa parte em congregar cidades, pessoas e estruturas para que a Região se possa mostrar em todas as suas valências. É esta cooperação que queremos realçar ao iniciar mais um Y, porque pensamos que este é o melhor caminho para deixar o discurso habitual de que vivemos “a fatalidade do interior”.
Chegamos a esta sexta edição com o Festival que idealizamos e que começamos a delinear em 2002, onde a dança, o teatro (nas suas formas mais contemporâneas), a música, a performance e as artes visuais conquistaram um espaço quase inexistente na Região. Não esquecemos evidentemente o esforço que outras estruturas têm desenvolvido com a organização de espetáculos, reafirmando a viabilidade de que estas formas de rotura com as disciplinas artísticas tenham um espaço próprio, que confirmam a tendência que não são apenas os grandes aglomerados que podem ter acesso a este tipo de espetáculos.
Continuaremos a desenvolver a formação de novos públicos, certos que estes serão a melhor garantia do desenvolvimento da arte contemporânea na região, mas também com a certeza que contribuímos para o desenvolvimento e enriquecimento pessoal de cada espectador. É pois com renovada expectativa que esperamos pelos desafios que os novos apoios às artes, ainda que com grande atraso, irão provocar na Quarta Parede e no impacto que terão na região.
Rui Sena, diretor artístico
Programa
Tiago Guedes e Maria Duarte
Ópera
4.out. 21h30 . Teatro Municipal da Guarda
A ópera, “a obra”, é uma aproximação a um espetáculo total, combinando música, teatro e dança. Mas combina-as segundo uma convenção de base, a de a narrativa ser cantada. E essa convenção é a mais eminentemente artificial. Uma das particularidades dessa ópera a tantos títulos singular que é “Dido & Eneias” de Henry Purcell (1689) que combina como nenhuma outra uma escala de câmara com a grande escala operática da sua exacerbação passional. Este espetáculo construiu-se, foi-se construindo, sobre a ópera de Purcell. Mas chama-se Ópera e não “Dido & Eneias”. Sobre as convenções da ópera e a narrativa do “Dido & Eneias” (narrativa dramática, musical e também coreográfica, que as danças e formas de dança são muitas na obra de Purcell), Ópera é uma proposta de transliteração, trabalho sobre e com diversas linguagens e idiomas, numa sucessão e sobreposição de artifícios. Augusto M. Seabra
Concepção e interpretação Tiago Guedes e Maria Duarte | Música Dido e Eneias de Henry Purcell | Participação especial Sílvia Figueiredo | Assistente da direção artística Pietro Romani |
Acompanhamento artístico Augusto M. Seabra | Figurinos Aleksandar Protich | Maquilhagem Sasha para M.A.C. | Fotografia João Rodrigues | Adereços André Murraças | Desenho de luz e direção técnica Mafalda Oliveira | Direção de produção Dina Lopes | Difusão Marie Roche | Produção Materiais Diversos | Coprodução Le Vivat, scène conventionnée Danse et Théâtre, Armentières (França) e ZDB Negócio, Lisboa (Portugal) | Projeto financiado pela Direção-Geral das Artes / Ministério da Cultura | Apoio RE.AL, Atelier RE.AL
55 min . M/12 . transdisciplinar
Joel Salom
Gadgets
10.out. 21h30 . Teatro Municipal da Guarda
O extraordinário artista australiano Joel Salom combinando circo e teatro-físico, junta-se ao fantástico duo de multi-músicos extra dotados, para apresentar uma extravagante comédia. Joel junta a sua técnica à mais alta tecnologia para nos proporcionar momentos hilariantes e de "partir o côco a rir". Gadgets (Engenhocas) inclui o genial e surpreendente "Instrumento musical ativado por malabarismo com interface digital", sistema de som/lazer e o divertidíssimo Eric, o cão robot.
Malabarista/ator Joel Salom | Músico Marko Simec | Músico Jim Dunlop
60 min . M/6 . novo circo
Tânia Carvalho
Uma lentidão que parece uma velocidade
23.out. 21h30 . Teatro Municipal da Guarda
Li esta frase num livro de Jean Cocteau e logo me inspirou. Por implicar movimento quase visível, pelo menos para mim, e ao mesmo tempo por achá-la bastante poética. Apeteceu-me logo fazer uma dança dedicada ao que esta frase me fez sentir. Sinto que sou uma coreomaníaca, e cada vez mais. Quanto mais danço, mais me apetece faze-lo. E cada vez mais me fecho no que a dança é por si só, na sua forma. Provocadora de emoções, sentimentos, coisas que nem eu sei explicar bem porque gosto de fazer e ver. Gosto desta confusão que é de lhe sentir a essência mas de não conseguir agarrá-la. De não saber muito bem porque escolho alguns movimentos, ou até porque chego a fazê-los. Esta frase fez me pensar nisto tudo que me baralha e me encanta. Nisto tudo que disse e em tudo o que ficou por dizer. Nisto tudo que a dança é.
Coreografia e interpretação Tânia Carvalho | Música Sonata for piano kv 545 Mozart, ré (avariado) Tânia Carvalho | Espaço cénico e luzes Daniel Lima | Figurinos Aleksandar Protich | Textos Patrícia Caldeira | Assistência musical João Aleixo | Produção Bomba Suicida | Coprodução Teatro Camões
45 min . M/12 . dança/música
Sérgio Pelágio, Maria João Matos e Nuno Correia
Três por trio
23.out. 23h00 . A Moagem . Fundão
Um projeto a três onde se cruzam duas gerações de músicos de jazz. Tocam standards mas também versões originais de grandes clássicos do rock, da música pop e do cinema, desde os Beatles a Burt Bacharah.
Voz Maria João Matos | Guitarra elétrica Sérgio Pelágio | Contrabaixo Nuno Correia
75 min . para todos os públicos . música
Vera Mantero, Carlos Zíngaro, Vítor Rua e Luís San Payo
Double bind quartet
25.out. 21h30 . A Moagem . Fundão
Double Bind (Duplo Vínculo): condição de um indivíduo perante mensagens contraditórias ou diferentes. Este termo foi criado por Gregory Bateson, como tentativa de explicação da causa da esquizofrenia através de uma perspetiva não biológica. Watzlawick costuma dar como exemplo de double bind o caso de uma mãe que oferece no Natal duas camisas ao seu filho. No dia seguinte o filho veste uma das camisas oferecidas, ao que a mãe lhe pergunta: "Então, filho? Não gostaste da outra camisa?" Formado por Carlos Zíngaro, Vítor Rua, Luís San Payo e Vera Mantero, Double Bind Quartet cria na sua música uma espécie de double bind entre duas tipologias musicais distintas: a Improvisação e o Rock-Art.
Guitarra elétrica de 8 cordas, pedais de distorção e delay Vítor Rua | Violino acústico processado Carlos Zíngaro | Bateria e percussões Luís San Payo | Voz Vera Mantero
60 min . M/12 . música
Sergi Fäustino
f.r.a.n.z.p.e.t.e.r.
30.out. 21h30 . A Moagem . Fundão
Este espetáculo é uma conversa-concerto na qual falaremos da vida de Franz Schubert e escutaremos a sua música. Schubert foi a dualidade personificada. Além da beleza das suas composições, o que mais me surpreendeu ao investigar sobre a sua vida foi esta dualidade. Schubert escolheu organizar a sua vida a partir da música e dos amigos, de valorizar ao mesmo nível a criação, a relação e a amizade. A ideia que sustenta este espetáculo é a de juntar as duas facetas mais importantes da vida de Schubert. Trata-se de reunir um grupo de pessoas ao estilo de uma reunião de amigos, para falar sobre a vida de Schubert e para ouvir uma seleção das suas “lieder”.
Cantora MªDolores Aldea | Pianista David Casanova | Ator Sergi Fäustino | Técnico som e vídeo Rubén Ramos | Fotografia e imagens Mò Pascual | Seleção musical MªDolores Aldea y Sergi Fäustino | Direção Sergi Fäustino Produção MOM/El Vivero e Teatre Lliure y Sergi Fäustino
105 min . M/12 . performance
Cláudia Dias/RE.AL
Das coisas nascem coisas
31.out. 21h30 . Teatro Municipal da Guarda
Um microfone em cena, enquadrado por uma pequena parede de caixas de cartão, define um espaço próprio ao discurso. A ação tem também o seu espaço próprio. Concentra-se em torno de caixas de cartão... À medida que se avança, as imagens suspendem-se entre aquilo que são na acção e se podem tornar no discurso, há pequenas paragens de sentido, leituras múltiplas, fotografias do provisório. Dueto de corpos e dueto de perspectivas.
Espaço cénico e desenho de luz Walter Lauterer | Acompanhamento crítico David-Alexandre Guéniot, João Fiadeiro, Rita Natálio | Traduções Marie Mignot, Mónica Mota | Apoio vocal Inês Nogueira | Música “Dance of the Dead”, “No Motherland”, “Without you” (Pochombo Electronic Ensemble), “Symphony nº3” (Henryk Górecki) e som gravado durante uma procissão | Poema “Perguntas de um operário letrado” (Bertolt BRECHT) | Direcção técnica Carlos Gonçalves | Intérpretes Márcia Lança, Rui Silveira | Residência artística Forum Cultural José Manuel Figueiredo/Câmara Municipal da Moita, Atelier RE.AL.
60 min . M/12 . dança
Sergi Fäustino
Duques de bergara unplugged
1.nov. 21h30 . Auditório Teatro das Beiras . Covilhã
Esta peça nasce no hall de um hotel. Nasce e cresce no hall de um hotel porque foi aí que a ensaiámos. Normalmente, o hall de um hotel é um sítio muito agradável, com música calma, pouca gente e com empregados muito amáveis que te oferecem café. Como se estava tão bem decidimos ensaiar ali, em vez de irmos para uma sala fria e pouco acolhedora. E esta é a peça que saiu, que como vereis, é um reflexo das conversas que tivemos e de como uma mesma coisa se pode perceber e interpretar de maneiras distintas. “- Garçon! Outro café, por favor.”
Direção Sergi Fäustino | Criação Mònica Muntaner, David Espinosa e Sergi Fäustino | Interpretação Mònica Muntaner e David Espinosa | Gravação e edição audiovisual Sergi Fäustino | Coprodução Teatre Lliure, m.o.m. el vivero e Sergi Faustino | Colaboração Departamento de Cultura y Medios de Comunicación – Eadc de la Generalitat de Cataluña
60 min . adultos . performance
Sílvia Real
Tritone
1.nov. 21h30 . Teatro Virgínia . Torres Novas
Depois do sucesso de Casio Tone e das aventuras da Senhora Domicília se terem tornado o tema central em Subtone, a saga continua com o terceiro capítulo: Tritone. Tal como nos anteriores, toda a peça acontecerá dentro do mesmo cenário minúsculo, num registo trágico-cómico e sem texto. Depois do problema da falta de espaço em casa e do tédio no seu trabalho solitário, Tritone é um hotel quase cápsula, dentro do qual a Senhora Domicília irá passar umas férias que a vão deixar como nova.
Argumento e interpretação Sílvia Real | Argumento (animação e peça) e sonorização Sérgio Pelágio | Figurino, adereços e direção de cena Ana Teresa Real | Cenografia e design gráfico Carlos Bártolo | Desenho de luzes e direção técnica Carlos Ramos | Assistente de cena Ângela Ribeiro | Animação Daltonic Brothers | Realização João Pedro Gomes | Fotografia Paulo Abreu | Assistente Patrícia Rego | Sonorização (animação) Simão Costa | Assistente de ensaios Filipa Francisco | Marcenaria José Botelho | Produção Produções Real Pelágio/Marta Reis | Coprodução Culturgest, Fundação Centro Cultural de Belém, Teatro Viriato, Teatro Circo, Festival Y/Quarta Parede, Centro Cultural do Cartaxo e Centro de Arte de Sines | Apoio Segway, Revista Nada, Daltonic Brothers, Miso Records, Restart-escola de criatividade e novas tecnologias, Cadigital- atelier de impressão, MC/IA (1999-2005) Ministério da Cultura/Instituto das Artes
50 min . M/8 . teatro/dança
Quarta Parede
Os fios que a lã tece
7 e 8.nov. Casa do Povo de Riachos . Torres Novas
A terceira criação da Quarta Parede - Associação de Artes Performativas da Covilhã, Os fios que a lã tece é um espetáculo concebido a partir do universo da lã, que nos transporta desde os tempos mais remotos do aparecimento da Covilhã e da indústria de lanifícios até ao presente. Os “fios” são os condutores da História e das estórias que marcaram a região e a vida das pessoas “tecidos” neste espetáculo de teatro de objetos. Cada um destes objetos acompanha memórias de vidas, de pessoas, de vivências, que cada um projetou ou projetará de certo nas suas vidas.
Ao revisitar todo o processo em que se construiu a realidade de uma região pretendemos, em primeiro lugar estimular as memórias, relembrando as raízes de uma parte significativa da população que vive na região da Serra da Estrela, com especial incidência nos concelhos de Covilhã, Guarda, Gouveia, Manteigas e Seia. Em segundo lugar que este processo possa servir para “tecer” um futuro diferente partindo destas memórias que tanto marcaram as nossas vidas. É com estes fios que muitas vezes nos desuniram mais do que nos uniram e que são portadores de toda uma memória coletiva e individual, que gostaríamos de tecer outros tecidos que nos afirmassem individual e coletivamente. Este espetáculo é um pequeno contributo que pode conduzir a essa reflexão, a essa união de que a região tanto necessita. O passado apenas se suspende em memórias, mas não obriga a tecer os mesmos caminhos. Rui Sena
Direção, concepção, desenho de luz, investigação e fotografias Rui Sena | Performer, investigação e fotografias Jeannine Trévidic | Performer, investigação e fotografias Sílvia Ferreira | Espaço cénico e realização plástica dos adereços Joana Marques | Produção Celina Gonçalves | Assistente de produção e comunicação social Inês Pombo | Desenho da banda sonora e recolha de sons Defski | Concepção plástica das chaminés em barro Sebastião Pimenta | Concepção e execução do rebanho Catarina Arnaut | Fotografia de incêndios Pedro Rodrigues | Colaboração de músicos da Banda da Covilhã José Eduardo Cavaco (clarinete) Ricardo Conde (trompa) Micael Teixeira (bombardino) e Vítor Silva (tuba)
45 min . M/6 . teatro de objetos
Maria Belo Costa
Ponto (I)móvel
7 e 8.nov. 21h30 . Auditório Teatro das Beiras . Covilhã
Em palco apresenta-se uma performer, aparentemente só. Telas de projeção, quase imperceptíveis de início, tornam-se tangíveis quando outras três figuras femininas são convocadas para a cena, através do vídeo, espectros de mulheres que ela já foi, desdobrando relações entre si, reveladas através de uma ação natural e não de um confronto direto. Toda a violência e confronto são apresentados pela fisicalidade da performer “assombrada” e efetivada pela presença das outras três figuras, mais estáticas e presenciais. O real versus o virtual.
Aqui cria-se uma relação paradoxal, onde o corpo físico, tem mais de virtual do que as figuras projetadas, que constituem produtos acabados, retalhos de memórias que são manifestadas através deste corpo físico e móvel e, no entanto, em construção. Dançar as memórias, dançar o agora. Entenda-se: as memórias não são sinónimos de angústia, saudade, cristalização, antes querem dizer marca, rasto, trajeto sem sentido ascendente ou descendente, fazer. Das memórias para as emoções. Dos perceptos aos afetos. A memória, a individual e a coletiva, e a criação. Viver ou construir realidades.
Concepção e performer Maria Belo Costa | Som [em tempo real] Carlos Zíngaro | Vídeo e cenografia Nuno Carrusca | Design de luz Pedro Fonseca | Design gráfico Helder Milhano | Apoio de movimento Yola Pinto | Dramaturgia Nilza Sousa | Produção executiva Pedro Fonseca | Produção Pé de Pano - Projectos Culturais | Coprodução Festival Y / Quarta Parede
50 min . M/12 . dança/performance